quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Bando de Dois


Hq Brasileiro sobre Faroeste?

Bando de Dois (Zarabatana Books, 96 páginas, R$ 36).  escrita e desenhada pelo Danilo Beyruth, que faz um bom trabalho com o Necronauta (click aqui para ler uma entrevista com o autor).  mistura elementos do cangaço brasileiro, que sempre rendeu boas histórias, mas nunca foi muito utilizada nos quadrinhos.  traz elementos dos filmes de spaghetti western, principalmente os do Sérgio Leone.


A história é estrelada por dois cangaceiros: Tinhoso e Cavêra di Boi. Quando o bando dos dois é derrotado e todos são mortos pelo Tenente Tenório, estes sobreviventes se unem (cada um com suas intenções) para resgatar as cabeças decepadas dos parceiros, que estão sendo levadas pelo Tenente como troféus.
Para contar a história, Beyruth traz uma narrativa típica do cinema, principalmente no movimento da “câmera imaginária”, que sai de planos abertos e vai até os fechados ou caminha pela cena como se fizesse um travelling, movimentando horizontalmente. Isso é mesclado com artifícios mais tradicionais dos quadrinhos, quando a passagem de tempo é demonstrada por meio de quadros com frases como “Depois” e “Enquanto isso”. A HQ também utiliza intertítulos, típicos de quadrinhos de faroeste.
A arte também traduz bastante a ligação com os filmes de Leone. O cangaço é sujo, podre e quente. E tudo isso está nos traços (que estão ótimos, é bom ressaltar) e no roteiro de Beyruth. Os personagens também não são romantizados. Muito pelo contrário, eles são reais.
Um leitor mais chato pode reclamar das falas dos personagens. É que o autor teve que fazer uma escolha. Ou ele fazia seus personagens falarem como nós, o que mataria a identidade deles, mas seria de fácil entendimento; escrevia as falas como realmente os cangaceiros falavam, carregando nos erros de português, no sotaque e nas gírias, o que deixa o texto complicado; ou ainda fazia um meio termo entre as duas soluções, com os cangaceiros falando algo como um “sotaque Globo”, no qual há gírias, trejeitos da fala e expressões locais, mas é mantido o entendimento por quem não conhece esse linguajar. O autor foi na terceira opção e, assim, os cangaceiros não falam necessariamente da mesma forma que os verdadeiros falavam, mas não fica difícil entender a história. Entre todas as opções, acredito que essa seja realmente a melhor.
Além da própria HQ, o que chama a atenção é a qualidade da publicação. Páginas têm boa gramatura (ou seja, são mais “grossas”), capa cartonada com uma textura incrível (o álbum não informa qual é o papel e, como não sou um profundo conhecedor de papel, fiquei curioso em saber qual é) e orelhas. Tudo isso graças ao ProAC (Programa de Ação Cultural do Governo de Estado de São Paulo), que ajudou a manter a boa qualidade editorial com um bom preço final para o leitor.

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